Defender o Quadrado
O bem comum
É cada vez mais notório o triunfo do individualismo sobre o bem comum.
Nas nossas sociedades ocidentais, livres, democráticas e com elevado nível de vida, as necessidades do indivíduo, a realização pessoal e profissional, alicerçada na conquista de status económico e social, são objectivos prioritários.
A maternidade / paternidade são adiadas até quase ao limite da capacidade biológica para procriar. A assumpção da responsabilidade parental é aligeirada e transferida, sempre que possível e em nome da solidariedade inter gerações, aos avós, esquecendo-se imediatamente essa mesma solidariedade quando a velhice dos mesmos avós se torna incapacitante, tornando-os dependentes.
Nessa altura, porque não estamos preparados para a verdadeira solidariedade, porque o culto da assepcia e da eterna juventude nos impossibilita de encararmos o avanço da idade, das rugas, a perda de memória, etc, instalam-se verdadeiros dramas nas nossas vidas. As mulheres trabalham, os homens também, os filhos têm as suas agendas e ninguém pode prescindir do seu quarto, dos seus telemóveis, dos seus jantares, dos seus computadores, das suas reuniões, dos seus cinemas, dos seus hábitos.
No entanto, com o aumento da esperança de vida, a diminuição do número de crianças e de empregos há pessoas (homens e mulheres) que vão passar a estar em casa, obrigatoriamente, porque não têm trabalho fora dela.
Será que vamos aproveitar para reabilitar a tal solidariedade intra e inter gerações, reconhecendo o importantíssimo papel que têm os cuidadores numa família, que estejam presentes e que apoiem, sem que isso seja considerado uma desgraça, um desprestígio, um falhanço?
Será que vamos aproveitar a melhoria na formação individual e as novas tecnologias, para nos desenvolvermos com qualidade, sem tabus ou preconceitos, que procuremos o nosso lugar na sociedade, sendo capazes de nos adaptarmos às circunstâncias, retirando disso proveito e felicidade?
Será que os homens deste país vão aceitar o desafio de serem eles a acompanharem filhos e pais à escola, às consultas médicas, às refeições, que aprendam que o carinho não é exclusivo das mães?
Será que os empresários deste país se lembram dos velhos e começam a investir em equipamentos sociais de qualidade, gerando emprego nas áreas de cuidados continuados, criando e produzindo aparelhos que facilitem a vida a quem tem dificuldade em caminhar, ver, comer, etc?
Será que as nossas maravilhosas sociedades desenvolvidas se vão esquecer de que o estado tem funções, nomeadamente em áreas de sobrevivência da dignidade individual, da protecção aos mais fracos e necessitados, da prestação de cuidados a todos por igual?
Ou será que, mais uma vez, devido ao papel tradicional da mulher, dona de casa e enfermeira não especialista de cuidados domiciliários, tão divulgado neste país, e ao aumento do desemprego, se assista a um novo escovar das mulheres da vida profissional, retrocedendo algumas décadas nas conquistas dos seus direitos?
Posted by Sofia Loureiro dos Santos at 21:27
In: http://defenderoquadrado.blogspot.com/2006/05/o-bem-comum.html
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